Autocompaixão com as crianças (pequenas e grandes)

POR SHILAGH MIRGAIN
TRADUÇÃO DE CAROLINE BERTOLINO
kids
No fim, os psicólogos podem ter se enganado. Ao longo dos anos, tem havido uma enorme ênfase na nossa sociedade em construir a autoestima das crianças. Os psicólogos agora acreditam que deveríamos ajudar as crianças a desenvolver autocompaixão ao invés de autoestima. O problema é que a autoestima é frequentemente desenvolvida por comparação social, o que significa que uma pessoa se sente especial ou superior aos outros em uma variedade de dimensões. As crianças se sentem bem consigo quando tiram a nota A ou 10, ganham o jogo, recebem o troféu ou ainda depreciando outras crianças para se sentirem melhores. Mas essa constante necessidade de comparação social para se sentir melhor do que as outras crianças propaga uma crença de que não é suficiente estar na média. Quando as coisas não vão bem, sentimentos de superioridade e de autoestima afundam, deixando as crianças vulneráveis a ansiedade, insegurança e depressão.
Qual é a solução?
Ensine as crianças a desenvolver a autocompaixão. Autocompaixão é aprender a extender compreensão, compaixão e encorajamento a você mesmx quando as coisas não acontecem do modo como você gostaria, tratando-se como você ajudaria uma pessoa próxima e querida. Pesquisas demonstram que aumentar a autocompaixão tem todos os benefícios da autoestima, mas sem as desvantagens. Diferentemente da autoestima, a autocompaixão reduz ansiedade, sentimentos negativos de embaraço quando você fracassa, e está associada a sentimentos de autovalorização mais consistentes e estáveis.
Há várias maneiras de ajudar as crianças nessa habilidade, incluindo: 
Atenção plena (Mindfulness)
Em um mundo governado pela distração, ensine a criança como estar no momento presente. Algumas maneiras de fazer isso incluem:
  • Ajude-as a perceber as coisas ao seu redor, usufruindo das experiências positivas quando elas ocorrerem. Ensine-as como estar presentes consigo.
  • Encoraje-as a respirar lenta e profundamente por três vezes quando estiverem estressadas, sobrecarregadas ou distraídas para retornar ao momento e de volta ao seu centro.
  • Ajude-as a desenvolver consciência de seus pensamentos e sentimentos, sem ignorá-los mas também sem se deixar sobrecarregar por eles.
  • Ajude-as a aprender a observar sem julgamento sua experiência interna, compreendendo que elas não precisam acreditar em todos os pensamentos que surgem, especialmente os negativos, e que as emoções são como ondas de oceano que se erguem e caem se você permitir que elas estejam presentes.
  • Ajude as suas crianças a identificar aqueles momentos de esforço e dificuldade como oportunidades de praticar a autocompaixão.
  • Valide as suas experiências, dizendo, por exemplo, “isso é realmente um momento difícil”, ou “foi realmente difícil passar por isso”. Faça com que elas estejam conscientes de como estão se sentindo noemando as suas emoções, como “você está triste” ou “assustada, ferida, etc”, e fale através de suas reações.
Bondade
A bondade começa quando compreendemos que nos esforçamos. Ensine as suas crianças a conversar de modo gentil consigo ao invés de um modo crítico. Isso ajuda a construir uma maior estabilidade. A autocrítica não ajuda e apenas produz uma variedade de consequências negativas, incluindo se sentir mal consigo. Da próxima vez que observar uma criança dizendo algo em um tom crítico, aponte isso e ensine-a a reformular esses pensamentos em algo positivo e confortante. A maneira como nos comunicamos com as nossas crianças estabelece um modelo de como elas irão eventualmente se comunicar consigo. Converse com elas de uma maneira não crítica. Ensine-as a se confortarem durante os momentos difíceis. Diga isso a uma criança pequena: “vamos praticar nos abraçar como a mamãe ou o papai fazem com você para você se sentir melhor. Você pode fazer o mesmo com você quando se sentir mal para se lembrar do quanto você é amada”. Ensine as crianças mais velhas a colocar suas mãos no seu coração para se darem esse conforto quando estão chateadas. Esses gestos pequenos ajudam-nas a se sentir bem e valorizadas por serem quem são não importando o que está acontecendo. Ensine as crianças a serem gentis com as outras. Pergunte-as o que fizeram naquele dia para fazer alguém feliz, encontre oportunidades de voluntariado para fazer em família, encoraje as crianças a escrever cartas de agradecimento, reconhecendo regularmente quando alguém fez algo bom para outra pessoa da família.
Compaixão pelos outros – Humanidade Comum  
Lembre as crianças que elas não estão sozinhas ao experienciar algo difícil, pois outras crianças se sentem exatamente da mesma maneira. Todo mundo se esforça, se sente inadequado, não recebe aprovação, ou falha em alguma coisa na vida. É parte de nossa humanidade comum. Isso ajuda a normalizar o que uma criança está passando e reduz a vergonha e embaraço pelos erros que cometemos e não nos sentimos bons o suficiente. Encoraje-as quando elas virem pessoas durante o dia a oferecerem compaixão. Ensine-as a desejar o bem para os outros, dizendo verbal ou silenciosamente aos outros “que você seja feliz, saudável e se liberte do sofrimento”. Quando a nossa percepção de autovalor é baseada em ser um ser humano intrinsecamente merecedor de respeito, ao invés de não atingir certos ideais, nossa percepção de autovalor é muito menos vulnerável. E isso contribuirá com um ótimo ano na escola. Nesse ano escolar, ao invés de buscar ser extraordinárix e especial, encoraje as crianças a encontrarem a beleza e alegria no ordinário. Como permanecer com a tristeza consigo e com os outros, o conforto que um toque de uma mão pode proporcionar, o calor da compaixão consigo e com os outros. Ensine-as o simples prazer de desejar alguém a felicidade, a paz. Faça esses momentos ordinários se tornarem vivos para elas. Então, o extraordinário tomará conta por si.
Gratidão 
É tão fácil focar no que está errado. Ensine as crianças a focarem no que está certo. Estudos têm mostrado que as crianças que cultivam gratidão em suas vidas possuem relações sociais melhores e se saem melhor na escola. Faça a gratidão parte de sua conversa diária. Durante um jantar ou como parte do ritual de dormir, peça-as para compartilharem três coisas pelas quais elas se sentem gratas em si mesmas e em suas vidas. Peça-as para refletir no porquê disso ocorrer para aprofundar a apreciação e compreensão das coisas boas em sua vida, incluindo aspectos de si mesmas, e não como algo já garantido.
Quando conversamos sobre atenção plena, bondade, compaixão e gratidão, do que estamos realmente falando é de cultivar mais amor no mundo. E isso pode ser um dos presentes mais valiosos a serem dados às nossas crianças.

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